Dinheiro e Motivação. Sua carreira precisa dos dois.

Black Friday… Natal… Muitas oportunidades para se gastar dinheiro. Porém, as pessoas continuam ganhando dinheiro de um único jeito: trabalhando. Curiosamente, há gente que acredita que as pessoas não devem ganhar pelo trabalho…

O Funcionário de Pequena Renda

Muitos gestores são bombardeados com informação de que salário não quer dizer motivação. Eu comentei isso no último artigo sobre liderança. Tenho conhecidos que surtam quando eu afirmo isso. Uma conhecida uma vez comentou:

Seus posts são odiosos para quem está tendo que segurar gente.

Bom… Eu diria que dificultam a vida de quem quer segurar gente boa ganhando mal. Se o funcionário é bom para ser retido, certamente ele gera mais riquezas que custo. Portanto, azar da empresa que não valoriza seu talento. Esse modo de pensar só confirma minha teoria.

Essa mania de querer dizer que dinheiro não tem nada a ver com motivação serve apenas para uma minoria de vagas no Brasil. Para ser mais exato, se avaliarmos os dados do IBGE, menos que 10% ganham mais do que 5 mínimos, ou seja, 90% da população ganha menos que R$ 5.000,00 (censo IBGE de 2010, resumo na reportagem do IG). Toda essa baboseira se aplica a menos de 10% da população. É um discurso de nicho que não se aplica a maior parte das pessoas.

Para deixar bem óbvio, vamos montar o cenário do perfil normalmente mais motivado da companhia. O novato.

Primeiro vamos ao quadro geral: o cidadão está suando para morar sozinho. Colou grau, quer um pouco de independência. Mora em um ambiente de com pouco espaço “privativo” (ou em um apartamento pequeno, kitnet, ou tem um quarto em uma república). Se teve pouca ou nenhuma ajuda dos pais, provavelmente tem um carro popular (na fabulosa qualidade de carros populares do Brasil) que ainda deve estar sendo pago.

Qualquer dinheiro a mais no bolso deste cara o coloca mais perto do seu sonho. Porém, ele vive escutando o mesmo que os seus gestores: que ele deveria focar na carreira e não se preocupar com sua remuneração. Nesses meus anos, já vi cara Senior ganhando igual Junior.

Antes de tudo, vamos avaliar o absurdo em que chegamos sobre não ganhar dinheiro. Já vi consultor/coach dar conselhos assim:

  • No início da carreira você tem que ralar de trabalhar e focar nas habilidades.
  • Quando for experiente, deve focar na satisfação e não dar bola para dinheiro.

Eles nunca dizem para você focar em dinheiro. Curiosamente, os mesmos tipos de consultores adoram dizer para você focar em cliente, em relacionamento e focar em tudo mais, porque foco traz resultado. Isso é prejudicial a empresa no longo prazo: pessoas inteligentes não podem ser tratadas como idiotas.

Quer separar joio do trigo? Se o seu coach for a favor das duas frases acima, fuja dele. Ele nunca vai te deixar ganhar dinheiro na sua vida. Pior ainda: talvez ele tente te convencer que dinheiro “é consequencia”. Claro que é: consquencia de quem sabe valorizar seu trabalho e cobrar por ele.

Trabalhar por Dinheiro

Uma das partes que eu mais gostei de ter escrito no Autodesenvolvimento (resumidamente) foi:

  • Uma pessoa trabalha esperando um salário.
  • Uma empresa paga um salário esperando o trabalho.

A relação capital-trabalho-dinheiro é discutida em várias vertentes ideológicas. Embora eu tenha minhas crenças, creio que todos os meus leitores tenham as suas próprias, das mais variadas crenças a respeito deste tema. Porém, uma coisa é fato: todo mundo quer trabalhar para receber algo em troca. Nem que seja paz de espírito, ver um mundo melhor…

Os altruístas não são foco desta publicação. Algumas pessoas, na verdade, a maioria, trabalha por dinheiro.

Esta é para aqueles que ganham dinheiro com seu trabalho, e gostam de fazer isso dando seu melhor. A este dinheiro se dá o nome de salário. Pagamento. Remuneração. Compensação.

Ideologias a parte, remuneração justa ou não, é fato que quem recebeu por seu trabalho trocou horas de vida por dinheiro. Se foi inteligente, fez esta troca fazendo algo que gosta ou, pelo menos, que considera aceitável.

Dinheiro e Motivação

Eu sou defensor de que a maioria das pessoas no Brasil, quando avaliados naquela pirâmide de Maslow, não ganha suficiente para sair da base e mal chegam ao segundo platô. Basta avaliar um salário Junior do quadro que eu citei no inicio deste artigo. Ao descontar custos mensais de alimentação e aluguel e já se comprometeu mais da metade da renda. Coloque alguma prestação de algum bem (um carro) e sobra uns trocados para uma ou outra coisa.

Curiosamente, um consultor vai dizer para o perfil que citei que ele deve se ralar de tanto trabalhar. Até aqui concordamos. Porém, o consultor vai comentar que ele deve esperar “reconhecimento, não necessariamente sob a forma de remuneração”. Aqui discordamos.

O que vai adiantar na vida do novato, nas finanças dele, uma promoção de maior responsabilidade sem compensação financeira? Vai é resultar em mais custos. Um exemplo muito comum: aumentam os custos de diversão, para que o sujeito aguente a nova carga de trabalho. Aumentam os custos de serviços. Se o cara precisar descansar mais, talvez tenha que parar de fazer a própria faxina, naquele sábado a tarde… Talvez vá ter que parar de fazer sua janta, pois pode ter que chegar mais tarde.

Custos que aumentam sem aumento de receita? A conta não fecha. Por isso se vê muita gente praguejando suas promoções.

Poder Aquisitivo

Todo mundo sabe bem o que é poder aquisitivo. Para quem está em início de carreira, dinheiro é o principal motivador. Não tem conversa neste ponto. Não interessa o quanto funcionários iniciantes gostem do que fazem, será natural a busca por maiores salários. Será natural a busca por melhor remuneração.

Por que? Por causa justamente dos mesmos sonhos que motivam o profissional. É justamente o aumento de poder aquisitivo que colocará o funcionário em uma situação financeira confortável ao ponto de que não será mais o aumento de remuneração que provocará um aumento da motivação. E, ao negligenciar isso, muitas empresas acabam perdendo seus maiores talentos.

Porém, também não adianta evitar que os funcionários cheguem neste estágio ao não promover ninguém: só se vai criar um alto turn-over e ganhar a fama de ser “escola” e não empresa com fins lucrativos. As pessoas não querem dinheiro para parar de trabalhar: conheço bastante gente que quer ganhar dinheiro para poder trabalhar melhor. Investir mais na própria carreira.

Costumo dizer que raramente um gerente de engenharia faz gestão de pessoas. Só se fala de aumento em contraproposta, só se fala de carreira na porta: na entrada e na saída da empresa. E a culpa sempre recai sobre os funcionários.

NOTA: muitos profissionais, quando entram em ascensão e, principalmente, quando são financeiramente promovidos, entram em um péssimo círculo: trabalham para pagar por mais conforto necessário para aguentar a crescente carga de trabalho. É nestes casos em que mais dinheiro não trará mais motivação. Porém, isso é menos de 10% dos casos dos empregados no Brasil.

O dinheiro não compra felicidade, mas traz tranquilidade.

É importante gastar bem o dinheiro que se ganha! Um bom planejamento financeiro é fundamental para que o profissional tenha paz de espírito. É fundamental para que fique calmo e sereno. Eu comento sobre isso neste artigo: Tome cuidado com perturbações internas.

Eu costumo dizer que há grande possibilidade de que o governo não vá ajudar nada… Há uma chance muito maior de que os governos vão atrapalhar mais (via impostos) que ajudar nesse crescimento. Eu também costumo pensar que apenas a pessoa é responsável por seu crescimento e pela melhora de sua qualidade de vida. Para quem não tem uma fonte ilimitada de renda, é bom gastar direito. Mas além disso, aqui, para se ter uma vida razoável, é preciso ganhar mais.

Por isso, vamos voltar ao cenário: o cara, ganhando e optando apenas pela “motivação” vai precisar comprar um apartamento. Vai querer trocar de carro. Enfim, vai ter que investir na sua qualidade de vida. Vai querer experimentar o resultado da motivação que recebeu como pagamento por seu trabalho. Vai comprar tudo a prazo, pois a motivação veio, mas o dinheiro não.

Esta pessoa *não* vai ter ganhos em qualidade de vida. Não vai ter acesso a bens e serviços melhores. Essa será a realidade pelos próximos 30 anos, se ele não fizer nada a respeito. Se for inteligente, ele vai fazer algo a respeito. Ou esta pessoa terá adotado um total pacto de mediocridade (para receber pouco por pouco trabalho), ou vai ter saído da empresa.

Nenhum gestor quer qualquer um dos dois.

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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