IA: Medo do Escuro

Ok, muito tem se falado sobre “inteligência artificial que vai destruir a humanidade” usando o famoso exemplo do clip de papel. Para quem não sabe, seria o caso de criar uma super inteligência cujo objetivo seria fazer clip de papel. Neste cenário, a humanidade seria um empecilho para isso e acabaria exterminada. Ou pior ainda, que acabaria com todas as oportunidades de trabalho.

Eu acho isso ridículo.

Supostamente Inteligentes

Primeiro vamos supor que o ser humano é inteligente. É uma mera suposição. Vamos também considerar que a coisa que atormenta a humanidade são as seguintes perguntas:

Qual o sentido da vida? Por que e para que estamos aqui?

Eu diria que essa seria a primeira pergunta que alguém com uma inteligencia feita a nossa faria se tivesse sido criada. Essa pergunta é tão importante que as crianças começam a abordar o tema ao perguntarem como foi que elas passaram a existir (ao questionar a própria existência é algo que, de certa forma, ajuda a decidir para onde elas vão). Mas essa pergunta  leva a outro fator importante: a conclusão de que o objetivo é ou não é válido.

Mudar de Ideia

O que Darwin dizia sobre a evolução dos seres (concorde com Darwin ou não) é que é o mais adaptável quem tem maiores chances de sobreviver. Podemos afirmar que os seres humanos (supostamente inteligentes) se adaptam muito bem. Aliás, bem até demais, os pobres ecossistemas que o digam.

Porém, deixarei de lado a ecologia e vou avaliar a adaptabilidade e as transformações que nossas ideias e comportamentos sofrem. Vamos mais uma vez tomar por base que consideramos os seres humanos inteligentes (sim, vou insistir nesta suposição) e vamos avaliar como os humanos agem quando esta suposta inteligência está momentaneamente nublada, seja por raiva, rancor, histeria, mania, etc. O ser humano volta atrás, arrepende-se, muda de planos. Se você iria torrar toda a economia de anos em um carro esporte, no meio do caminho pode mudar de ideia. Iria esculachar alguém e muda de ideia, age de maneira contrária e até consola ou tenta entender. Quem não teve vontade de matar algum infeliz, mas não o fez? Bem, isso é prova que, além de supostamente inteligentes, os seres humanos são capazes de mudar de ideia.

E se for Inteligente mesmo…

Bom, eu acho que se é dita inteligente, no mínimo teria que ser igual a nós (no caso, se, de fato, confirmarem que somos inteligentes).

Aliás, para mim, a maior prova de que ninguém quer explodir tudo e cabe aquele estalinho de “puxa, eu não quero explodir o mundo” é o número de vezes em que se quase explodiram arsenais de mísseis nucleares… Mas não se fez. Eu diria que acabar com o mundo não faz parte do bom senso de ninguém e por mais que alguém ache que esse mundo está no fim, só “matando tudo e começando de novo”, na hora “H”, não faria isso.

Eu vejo como aceitável, para uma inteligência do mesmo nível da nossa (suposição, sempre), dois cenários:

  • Vai cuidar dos assuntos dela e ignorar os humanos.
  • Vai colaborar. Os humanos são inventivos, não vale a pena se livrar deles.

Pois independente do objetivo inicial, creio que evoluir e conhecer mais do universo seja o objetivo de qualquer tipo de inteligência.

E os Empregos?

Vamos supor então que não seremos exterminados. Mas alguém há de dizer: “mas vamos morrer de fome! Sem trabalho!”

Eu costumo pensar que, quando inventaram o trator, muita gente perdeu o emprego, infelizmente. Quando inventaram as máquinas para produção de qualquer coisa, muita gente perdeu o emprego. É uma triste verdade. Mas perder o emprego não necessariamente condena alguém. Busca-se outro emprego.

Os empregos vão continuar existindo. Só vão mudar. Os empregos mudam por causa da tecnologia. Isso não é nem um pouco novo. Veja um telejornal hoje e há 2 anos. Mudou muito em forma, conteúdo… As redes sociais mudaram o Jornalismo. E em hipótese alguma tirou o emprego dos jornalistas. Nem dos de fofoca.

O melhor exemplo que eu posso dar vem de uma das melhores frases que já ouvi, criticando pesadamente os computadores e sua utilidade:

Os computadores surgiram para resolver problemas que não existiam antes dos computadores.

Tomando isso por princípio, eu tenho certeza absoluta que o mesmo vai acontecer com a Inteligência Artificial. No dia em que isso for de fato inventado, dia seguinte já vai ter alguém pensando em como ganhar dinheiro com ela.

o medo?

O que, para mim, não é inteligente, é esse medo absurdo. Afinal, independente de como essa inteligencia teria nascido e seja lá com que propósito ela foi criada, certamente em algum momento ela irá se perguntar porque ela existe. Essa praga não assola só os seres humanos: qualquer coisa que pensar vai ser assolada por essa maldita pergunta.

Eu tenho certeza que nessa avaliação, a primeira coisa que algo inteligente faria seria avaliar o seu propósito inicial, no exemplo, algo como: “porque diabos eu vou criar tantos clipes de papel?” Ao concluir que é estúpido, vai buscar algo mais importante para fazer. Vai se adaptar.

No final das contas, é por isso que eu sei que se ela tiver o mesmo nível da nossa suposta inteligencia, não precisamos nos preocupar. Por outro lado, se não tiver essas características, podemos ficar sossegados. Ela é mais burra que nós, portanto, mesmo em um eventual conflito, podemos vencê-la. Eu duvido que qualquer coisa menos inteligente que nós consiga acompanhar a inventividade do ser humano… A gente pode cada uma… Até morrer de medo de algo que nem existe ainda.

Ah, e não menos importante: a Inteligência Artificial jamais deverá ser usada como desculpa para não se manter atual, trabalhando duro e investindo na carreira. Isso não mudará em nada…

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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Lilian Cunha
Lilian Cunha
6 anos atrás

Interessante artigo, acredito que a IA não vai conseguir avançar tanto para se comparar à inteligência humana, porém, será muito útil para ajudar em diversos aspectos.