Coaching Tamanho Único

Buzzfeed/Macey J. Foronda

Para levar sua carreira, o seu melhor amigo é o SEU bom senso.

Ninguém precisa comprar bom senso alheio. Como diria Descartes:

O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa estar tão provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o têm.

~Descartes, em O Discurso do Método

O Óbvio Amaldiçoado.

O bom-senso, na minha opinião, é amigo do óbvio. Usa-se o óbvio para inciar um raciocínio. Parte-se do senso comum, que algo mais universal para explicar e criar conceitos mais complexos. Constrói-se algo sobre ele. E eu gosto muito de partir daquilo que é de comum conhecimento e acrescentar alguma novidade, ou seja, ir construindo um raciocínio. Como exatamente faço neste parágrafo.

Mas JAMAIS se deve finalizar no óbvio: falar o que todo mundo já sabe não adianta de nada.

Um Exemplo Matinal

Todo dia, quando eu ia para o trabalho, eu ligava o rádio. Programa sobre saúde. Todo dia era mais ou menos assim: pergunta genérica e reposta óbvia do Especialista. Exemplo de resposta:

-O ideal é você procurar alimentos mais saudáveis, com a ajuda de um nutricionista. Para a prática de exercícios físicos, começar com uma caminhada leve e aumentando a intensidade com o auxílio de um profissional de educação física.

É ridículo. Veja que ele pode responder isso para qualquer questão e soar correto:

-Estou cortando totalmente os carboidratos. Estou fazendo correto?

-O ideal é você procurar alimentos mais saudáveis, com a ajuda de um nutricionista. Para a prática de exercícios físicos, começar com uma caminhada leve e aumentando a intensidade com o auxílio de um profissional de educação física.

Dá para radicalizar:

-Posso tomar gasolina?

-O ideal é você procurar alimentos mais saudáveis, com a ajuda de um nutricionista. Para a prática de exercícios físicos, começar com uma caminhada leve e aumentando a intensidade com o auxílio de um profissional de educação física.

Agora uma coisa é fato: se uma resposta genérica que responda a qualquer questão pode ser empregada, por não dizer nada do que é óbvio, será que dá para transformar isso em produto?

Ah, dá.

Coaching Tamanho Único

O sujeito nunca leu filosofia. Nunca leu psicologia. Nunca estudou nada sobre comportamento. Aí ele vai lá e em 6 meses vira coaching. Eu resolvi pesquisar vários materiais sobre coaching por aí e quase todos me soaram com várias obviedades:

  • Você deve ser mais eficiente
  • Você não deve trabalhar até o limite
  • Você não deve dar a primeira resposta que vem a mente
  • Não haja no impulso

Sério? Contém até a mais clássica das clássicas:

  • Você deve se preocupar com sua carreira. O salário é recompensa.

Curioso que usam isso até para quem está prestes a se aposentar, que não tem tempo hábil, a não ser que empreenda e tenha um crescimento súbito, de crescer na carreira (o filme The Intern tem uma cena fantástica neste sentido). Mas e por que, pergunta-se, eles não realmente entram na vida do cara e fazem um coaching decente?

Por que não é bem assim. É muito complicado mexer nos parafusos da cabeça de alguém. Existe gente que dedica uma vida para entender da cabeça dos demais. E ninguém, muito menos os donos de curso em formato de pílula de coaching seria louco de estimular gente despreparada para fazer isso. Aí municiam este mundaréu de coaches com uma planilha e frases padrão.

Ah, claro, depois de coletarem a matrícula.

O que Ninguém Conta…

Ninguém conta o que todo mundo quer evitar saber. Executivos de altíssima performance adoram dizer que trabalham apenas o necessário. Só que este “necessário” tem 16 horas por dia. Modelos e manequins que comem de tudo, bodybuilders que não usam anabolizantes e atletas de elite que não tem nenhuma dor… E por aí vai.

O que tudo isso tem em comum? Apelar para o senso comum, com a resposta que serve a todos os tamanhos. Usa-se o bom senso como ferramenta de esconder algum sacrifício, como ferramenta de tornar a dedicação, o suor e o sacrifício, pequenos.

Costumo perguntar sempre: faz sentido alguém fazer o que todo mundo faz, do mesmo jeito que sempre fez e ainda esperar diferentes resultados? Einstein, o Albert, para uma pergunta parecida, disse ser loucura.

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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