Profissional Obsoleto

Tudo pode ficar obsoleto um dia. Até mesmo piadas…

O Super Relógio

Tem uma piada, que já me fez rir, e estes dias eu lembrei dela. Eu deveria ter uns 10 anos de idade quando ouvi pela primeira vez. Estamos falando de 1991, uma época em que eu jogava Mega-Drive com cartucho adaptado na casa de um amigo e eu tinha um Master System.

Mais ou menos assim:

Um homem andava na rua carregando duas malas. Um segundo homem, muito rico, cruza por ele, mas antes lhe pergunta as horas. Ele coloca a mala no chão, olha para o seu relógio de pulso e responde:

  • São 2:14.

Automaticamente o relógio anuncia:

  • “Neste momento, suas ações na bolsa estão em alta. Recomendo que as venda.

Impressionado, o segundo homem segue caminhando. E, intrigado, corre, dá uma volta na quadra, cruza novamente com o primeiro homem e pergunta as horas. Ele, pacientemente, coloca a mala no chão, olha para o seu relógio de pulso e responde:

  • São 2:16.

Automaticamente o relógio anuncia:

  • “Neste momento, o tempo para o seu próximo destino é de chuva. Procure abrigo quando chegar.

Ainda mais impressionado, o segundo homem segue caminhando. E, ainda mais intrigado, novamente corre, dá uma volta na quadra, cruza novamente com o primeiro homem e pergunta as horas. Ele, pacientemente, coloca a mala no chão, olha para o seu relógio de pulso e responde:

  • São 2:18.

Automaticamente o relógio anuncia:

  • “Sua mulher gostaria que você fosse ao mercado antes de chegar em casa.”

Quando o segundo está prestes a sair correndo e dar mais uma volta, ele pensa, para e oferece:

  • Quero comprar seu relógio. Pago um milhão por ele.
  • Mas é um protótipo…
  • Quero mesmo assim. Tome, aqui, em dinheiro.

Quando saia feliz vestindo seu relógio novo, o primeiro homem grita, levantando as malas:

  • Ei, você está esquecendo as baterias!

Manter-se atual em Desenvolvimento

A piada na época parecia coisa de ficção. Hoje não só é real, como não precisa de duas malas de bateria e cabe no bolso. A tecnologia voa, e quem fica parado perde espaço. Mas trabalhar dentro de uma empresa de tecnologia garante estar afiado?

Ficar dentro de uma empresa faz a gente especialista. Especialista em uma tecnologia? Não. Em um produto. E nos componentes deste produto. Tanto que é muito comum um desenvolvedor entender muito mais de um determinado microcontrolador, por exemplo, que o suporte do próprio fabricante. Mas no que isso ajuda na carreira? Muito pouco.

Além disso, eu tenho uma estatística cruel: um engenheiro solta, de produto novo _mesmo_ em torno de 1 produto a cada 2-3 anos. As vezes nem isso. No restante do tempo, é mais do mesmo, reciclagem, bug fix e feature add. Isso é tão verdade dentro das empresas que conheço casos de profissionais que nunca trabalharam em um produto lançado.

Sei de um caso a respeito. Conheci um figura que pulara de projeto em projeto, sendo que sempre cabia aos outros terminar o que ele mal tinha começado. Quando finalmente um produto que este cara trabalhou teve venda prévia, ou seja, antes de ficar pronto, ele mudou de empresa.

Portanto, o meio não oferece e, talvez pior, não cobra atualização.

Manter-se Atual é Difícil?

Sim e não.

Sim porque requer atenção constante, gasto de energia e força de vontade. Não porque só requer atenção constante, gasto de energia e força de vontade. E não adianta achar que isso é responsabilidade do seu empregador: a responsabilidade de uma empresa é lucrar com seus produtos e serviços. Se for uma boa empresa, fará isso com muitas virtudes, mas ainda sim, é este seu objetivo.

Além do mais, as empresas Brasileiras não são grandes exemplos de inovação: tanto que a maioria mantém o mínimo de desenvolvedores possíveis, raramente conseguem obter patentes de peso. Todo desenvolvedor já ouviu isso em sua carreira: “aqui sempre se fez assim”.

Ok, a empresa não ajuda. E você?

Quanto você investe na sua educação?

Pouco. Em tempo e em dinheiro (sendo que os dois são a mesma coisa). Responda, para você mesmo:

  • Quando foi a última vez que pagou para adquirir conhecimento? Vale curso, livro,…

Para muitos, o investimento terminou durante a faculdade. Para os que cursaram públicas, nem isso. Você não investe em você, por que a empresa deveria?

Ela não deveria. E não investe.

Feito o reality check, o profissional deve começar a se reciclar. E a reciclagem começa com a postura. Aceitar ideias novas é uma das melhores formas de se manter atual. Torcer nariz para código fonte alheio pode fazer o desenvolvedor perder ótimas oportunidades de aprender como os seus colegas resolvem o mesmo problema. Ao se sujeitar a novas técnicas, o desenvolvedor acaba se atualizando.

Mas isso é o primeiro passo… E não é opcional.

Caso contrário, você pode acabar como uma piada velha e sem sentido…

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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