O Desprezo à Formação e a Lenda do College Dropout

Basta trancar uma porta para ela ser mais atrativa que as outras...

Seria interessante apostar todas suas fichas em um plano com maiores chances de dar errado?

A lenda do College Dropout

Muito empreendedor, muito bem-sucedido, coloca que a universidade não teve papel importante na sua vida. Isso é um desserviço. Tão desserviço quanto a Lenda da Garagem e a do Só depende de Você. O problema dessas lendas urbanas, principalmente quando essas lendas são vivas, é que são exceções que começam a se tornarem a regra.

Se a gente avaliar o grau de sucesso, em média, das pessoas que deixam universidade frente aqueles que permanecem na universidade, a realidade vai ser totalmente contrária a esse mito e ao que grandes figuras pregam. O que normalmente, o que essas figuras não dizem é que eles largaram a faculdade porque eles tiveram aquilo que todo mundo que desponta muito acima da média, que toda pessoa de extremo sucesso, que sai de uma vida comum e vira multimilionário precisa para que esse extremo sucesso aconteça: o evento aleatório de sorte.

O evento de sorte aliado sim a trabalho duro gera resultados inimagináveis. Porém, sem o evento de sorte, as chances de ter uma vida razoavelmente boa são muito maiores para aqueles que permaneceram na universidade até a graduação. Talvez até tenham a chance de ter uma vida boa, confortável e até de ser bem-sucedido sem um evento de sorte, e dependendo apenas de sua própria habilidade.

Meu plano envolve ganhar na loteria.

A grande maioria vai passar a vida inteira perseguindo esse evento de sorte não vai conseguir. Largar a universidade e investir com tudo em uma ideia tem menos chances de dar certo do que dar errado. Assim, quem opta por este caminho faz planos do tipo: “basta eu ganhar na loteria”. Não é esperto…

Embora a sorte seja tão importante, muita gente negligencia esse pequeno detalhe e tenta seguir a vida desses grandes empreendedores, dessas grandes figuras bem sucedidas sem se dar conta de que o evento de sorte é aleatório. Portanto, pode ser que não aconteça.

O que está na mão das pessoas normais e para a grande maioria para qual não vai haver esse evento de sorte é justamente controlar tudo aquilo que for possível e que aumentem as chances de sucesso. Uma das coisas mais importantes, portanto, é investir na própria formação, no próprio conhecimento nas próprias habilidades.

Sucesso Garantido?

A quantidade de pessoas de sucesso que detém uma graduação ou pós-graduação é muito maior do que aqueles que não têm. Isso se pode avaliar, como um dos indicadores, pela média salarial. Mas isso não é garantia de sucesso

Não é fundamental que uma pessoa tenha vários formações, cursos e especializações para ser bem sucedido. Justamente, temos exemplos em que isso não é necessário. Porém, estamos falando de escolhas e escolhas devem ser feitas sobre aquilo que é mais promissor. Sempre.

Para comprovar isso, existem aqueles que optaram por doutorado com conhecimento extremamente específico, sem muita aplicação no que a pessoa pretende fazer depois de concluir o curso. Sem esse vínculo, o profissional não se diferencia; sem diferenciar-se, o investimento não teve valor. Exagerar na formação, apenas pela formação, sem pensar no que fazer com essa formação é também um mal negócio.

A utilidade do conhecimento formal depende, como qualquer coisa, da sua aplicação. A visão do excesso de graduação colabora justamente com a imagem resultante e distorcida de que nenhuma graduação e nenhuma formalização de conhecimento são importantes.

O Desprezo à Educação Formal

Existe uma onda de gente também negligenciando a formação ou aquisição de conhecimento formal privilegiando sempre que tudo que é ensinado em cursos gratuitos na internet é suficiente. A internet sim é uma excelente fonte de conhecimento; mas a cátedra convencional tem seus méritos.

Creio que muita gente conheceu alguém arrependido por não ter feito universidade.

O que há em comum em todas as pessoas extraordinariamente bem sucedidas é justamente o evento de sorte; não uma graduação. Apesar disso, muito embora uma graduação não vai definir o grau de sucesso de alguém, ele eleva em muito as chances. Não é à toa que muito founder de sucesso tem até doutorado em um tema que viabilizou a empresa…

Além disso, a graduação pode definir ou elevar alguns pisos, o que também é interessante. Abandonar a educação formal por “inspiração” é um mal negócio: é abandonar a empregabilidade. A empregabilidade de quem tem uma boa graduação é sempre maior do que a de quem não tem nenhuma. Mesmo assim, muita gente insiste em desprezar a educação formal.

O resultado? O mercado acaba desqualificado, as pessoas com baixa empregabilidade e reclamando do governo, dos empresários, do avanço da tecnologia enquanto que quem não tomou nenhuma atitude para proteger o próprio emprego foram elas próprias; emprego depende de muitos fatores, empregabilidade depende só da gente.

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.

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