Mais uma leitura da série Contos Corporativos.
Vamos contar a história de Grunf, o homem das cavernas corporativo.
Não temos como pronunciar o nome, para ser exato. Então, tentamos reproduzir o seu nome Grunf como hoje o ouvimos: Grunf.
Grunf nasceu em um período bem menos afortunado que nós, na idade da pedra lascada, ou paleolítico. Ele foi um dos primeiros humanos a andar na face da terra. Poderíamos dizer que Grunf trabalhava como empreendedor: se ele não trabalhasse, morreria por inanição. Um outro ponto de vista igualmente válido é que Grunf trabalhava para a Mãe natureza. Seja como for, podemos dizer que Grunf trabalhava em uma espécie de cooperativa com seus poucos semelhantes.
Grunf e seus peers tinham apenas duas escolhas possíveis de carreira: um, ser caçador e coletor (ao mesmo tempo, visto que esta especialização só viria a surgir alguns milhares de anos depois, durante um upsizing) ou então ser comida de alguma besta selvagem.
Diferente do tempos atuais, Grunf, que trabalhava como caçador e coletor, fazia tudo o que era possível para não ser promovido ao outro cargo disponível. Alias, em momentos de desespero, Grunf promovia seus colegas para se manter no cargo atual.
O principal chefe de Grunf eram a natureza selvagem e suas necessidades fisiológicas. Além de não ligarem para sua carreira, estes chefes cobravam todo dia resultados de Grunf. Não proporcionavam um plano de carreira, muito menos levavam em conta o histórico de sucesso de Grunf: todo dia Grunf começava do zero e uma coisa muito curiosa que vale até hoje: se Grunf fosse muito bem sucedido, Grunf ganharia peso e seria promovido, pois tornava muito, muito apetitível para as bestas selvagens.
Além de tudo isso, Grunf também tinha muito pouco lazer. Grunf tinha que trabalhar todo dia, sem finais de semana, o tempo inteiro, pois até mesmo uma pausa para almoço poderia significar ser promovido. Nem enfermo grunf tinha sossego: se ficasse doente, seria promovido.
Grunf sofria. Nem descanso noturno. Pelo contrário: Grunf trabalhara o dia inteiro e ainda tinha que dormir com um olho só, pois a promoção era sempre iminente. Mesmo que confiasse nos seus peers, Grunf preferia ser mais hands on e cuidar de sua própria existência.
Apesar de tudo isso, Grunf perseverou. Teve prole fértil e desempenhou com maestria a única função existente que garantia muitos anos na ativa. Do momento do seu nascimento até sua morte, que não sabemos exatamente quando foi.
É Grunf… E tem gente reclamando porque não teve feriadão negociado. Se fosse você, Grunf, ajudaria a promover essa gente sem pestanejar!