O Desafio ao Definir Desafios.

Tabuleiro de Xadrez

Vejo muita gente falando de propor desafios, de enfrentar dificuldades e ao mesmo tempo vejo que tão afiado quanto o discurso é a grande quantidade de pessoas que acham que propor desafio é propor o impossível, na esperança que o time atue como mártires diante a derrota inevitável. Sempre me ouvi dizer que “deve-se dar uma tarefa um acima da capacidade do profissional para que este se desenvolva e venha a passar a executar as suas atividades de acordo com o novo nível de capacidade.”

Quando comecei a coordenar equipes, passei a achar isso um absurdo. Primeiro, o funcionário vai, com recorrência, falhar até elevar sua proficiência ao ponto que fique capacitado para o trabalho. Neste tempo, a empresa faz o quê com as atividades ruins que este profissional executa? Segundo, ao dar as pessoas mais do que estão capacitadas ou, como eu prefiro, mais do que são proficientes para fazer, provavelmente estamos sujeitando a pessoa ao fracasso por planejamento.

Enquanto estava revisando meus “manuscritos digitais”, ou seja, olhando anotações, apresentações e etc, me deparei com vários resumos que escrevi para definir meu estilo de proposta de desafios. Um fragmento dessa ideia é abordada sutilmente no Autodesenvolvimento quando trato de prazos, ao listar aspectos de uma boa empresa para se trabalhar:

Outro bom ponto é avaliar como a empresa determina seus prazos: uma empresa que determina prazos aleatórios e fora da realidade normalmente não consegue diferenciar o atraso do bom da incompetência do ruim pois bons e ruins fracassam ao largo e da mesma forma. E, sem essa diferenciação, sem oportunidade para ninguém.

O que eu considero muito mais coerente é ir aumentando gradualmente a dificuldade dos objetivos propostos dentro da proficiência do indivíduo. Desta forma, o funcionário já possui as habilidades para executar determinada atividade e o que falta é apenas experiência. Basicamente, é a reprodução do que acontece na vida do profissional: ele estuda até obter um grau ou diploma (atestado de proficiência) e entra no mercado e vai acumulando experiência.

Em outras palavras: o indivíduo já tem os requisitos para que possa ser atribuído a novas (ou mais) funções e é neste momento que tal atribuição deve, de fato, consumar-se. E, com isso, o trecho que mencionei deriva de um pensamento muito maior, que eu tenho como fundamental em qualquer medida de performance ou proposta de desafio:

“Se um objetivo proposto for fácil demais, tanto os piores e os melhores obterão sucesso, portanto, serão iguais. De maneira oposta, se os objetivos propostos forem inatingíveis, os piores e os melhores fracassarão da mesma maneira, portanto, serão iguais. Os desafios precisam ser consistentes para separar os melhores dos piores.”

Mas o que este tipo de pensamento quer dizer? Bem, qualquer desafio surreal vai instantaneamente contar com o desânimo inteiro da equipe. Seja fácil (desestímulo) ou seja impossível (desistência), a equipe sempre reagirá negativamente a objetivos mal colocados. O segredo está no balanço e este balanço chama-se tangibilidade.

Com o tempo, a atribuição de novas atividades, promoverá a expansão da proficiência e provavelmente abrirá oportunidade para recomeçar o ciclo. E o profissional faz isso em um caminho com maior número de sucessos, afinal, os erros são bem menores quando se sabe o que está fazendo.

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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