A Originalidade da Ideia Importa?

Eu sempre comento que o ponto mais perigoso na vida de um produto não é no seu estágio pré-lançamento, que é totalmente coberto de sigilo. Também não é quando ele já está em um número estável de vendas em que corre o risco de cair.

Estes dois estágios na verdade são os mais estáveis: no primeiro, o produto é estável no mercado e tem venda nula. No segundo, todo produto de tecnologia encontra ou o seu fim, pois aquela tecnologia obsoletou, ou acaba virando commodity. Então se já é sabido, então qual é o momento mais perigoso da vida de um produto?

O momento em que entra no mercado. Durante o ramp up de vendas. É o momento em que os clientes descobrem o produto, o mercado passa a gostar ou não gostar. É o momento em que um turbilhão de informações deveriam ser coletados. É também o momento em que os concorrentes tomam conhecimento de todo o seu diferencial.

A Originalidade das Ideias como Fator competitivo

A originalidade de uma ideia é, sim, algo muito importante. Porém, apesar de importante, a originalidade de uma ideia é perecível: em tempos de troca constante e massiva de informações, a novidade trazida por uma ideia some rapidamente.

A originalidade de uma ideia é perecível.

Há 5 anos atrás, ainda se usava telefone para se chamar táxi. Hoje, se usa aplicativo para pegar carona. O primeiro foi uma ideia que obsoletou. O segundo foi uma ideia original. MAS…

Hoje, muita gente já teve centenas de ideias de aplicativos “tipo Uber”, ou seja: esse tipo de ideia não é mais original. Este tipo de ideia, como diferencial competitivo, acabou. O disruptivo sempre é desconhecido: quando se torna conhecido, deixa de ser disruptivo.

O Tributo à Originalidade

Tudo começa com o fato de que o Brasil é um país de inventores. Adoramos coisas disruptivas (o que é contraditório com nosso conservadorismo na adoção destas mesmas coisas, mas isso é assunto para outra publicação). E neste tributo à originalidade, aqueles que tem a ideia normalmente consideram isso a parte mais importante do trabalho. É assustador como essa frase é comum:

Eu já sei o que fazer, agora só preciso de alguém que faça.

Não só é comum que, enquanto busca “alguém que faça”, o detentor da ideia fica arisco ao dar mais detalhes do que tem em mente com o medo de que alguém lhe roube a ideia. Não tarda até que este idealizador tome conhecimento que, enquanto ele ficou na ideia, alguém entrou no mercado com uma solução exatamente igual.

A Ideia não vale Nada.

O que vale mesmo é a execução. O google não foi o primeiro buscador. O Iphone não foi o primeiro celular, quem dirá o primeiro smartphone. O Facebook não foi a primeira rede social. O que foi diferente? Ambos contaram com excelente execução, seja no que já era conhecido, seja no que apresentaram como disruptivo.

A execução de uma ideia vale tão mais que outras coisas que mesmo modelos abertos, de coisas que estão prontas em que a ideia está para qualquer um copiar tem valor, enquanto a ideia sem execução não vale nada.

O Ponto Perigoso

É justamente por isso que o ponto mais crítico durante a vida de um produto é o seu ramp up. É a tradução da ideia executada que ganhou mercado. É o ponto em que as empresas devem focar seus esforços para extrair do mercado a maior quantidade de informações possíveis a respeito do que o produto representa aos consumidores.

Costumo dizer que inovação tem que ter impacto: este impacto é mais sentido e avaliado durante a sua chegada ao mercado. Seja para vender, seja para alertar os concorrentes.

Do que adiantou ficar todo melindrado, se a melhor ideia contou com uma execução ruim, o produto ficou falho e mesmo assim ganhou mercado? A execução, portanto, é muito mais importante que a ideia.

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.

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