Ancoragem Psicológica: como isso interfere no seu trabalho.

Falaram besteira para você. Usar o “feeling” raramente vai ser uma boa ideia…

Quem nunca ficou com medo de “relar” em alguma coisa só porque está funcionando? Creio que todo mundo já passou por uma situação parecida, em que o resultado positivo de um determinado teste faz com que se crie uma inércia para desmanchar este conjunto e continue avançando com o projeto. Existem vários motivos para isso e, tomando a grande licença de todos os psicólogos, uma das principais é a ancoragem psicológica.

Neste artigo eu comentei sobre a Ancoragem Psicológica, que influencia a percepção de prazos e atrasos. Porém, este viés cognitivo se manifesta em muito mais situações que podemos imaginar…

Ancoragem Psicológica

Da Wikipedia:

O efeito de ancoragem é um viés cognitivo que descreve a comum tendência humana para se basear de forma intensa, ou de se “ancorar”, a uma característica ou parte da informação recebida, quando em processo de tomada de decisão. Dito de outra forma, designa a dificuldade de alguém em se afastar da influência de uma primeira impressão.

…é um processo que associa inconsciente e automaticamente uma reacção interna a um estímulo exterior.

Este efeito está relacionado ao pensamento humano como um todo, molda e lapida as opiniões das pessoas através de suas vivências. Muitas vezes, o efeito ancoragem se dá pelo inconsciente para se realizar tomadas de decisões.

Mas será que isso pode lhe afetar no trabalho? Certamente. Como? Muito! Tanto que só posso dar alguns exemplos…

Alguns Casos de Ancoragem Cognitiva

A Primeira Impressão é a que fica…

O caso mais clássico de ancoragem é o caso das primeiras impressões. Um exemplo: um determinado profissional finaliza um projeto antes do prazo. Isso pode gerar de ancoragem em alguem avaliando tal profissional de forma que se considere que ele sempre irá entregar tudo adiantado. Então…

  • Vai haver uma frustração grande sempre que ele “atrasar” (ou seja, entregar depois do esperado, mesmo que dentro do prazo do projeto)
  • Sempre será avaliado como alguém que faz tudo em menos tempo.

De forma análoga, isso pode acontecer caso contrário, caso a primeira entrega demore. Por falar em prazos…

Metas e Prazos

Neste artigo, eu comento que a unidade de medida de tempo gera um efeito de ancoragem psicológica: para um prazo dado em dias, é esperada uma variação de dias. Em um prazo dado em meses, é esperada uma variação de meses. Eu atribuo este efeito a ancoragem cognitiva.

Do artigo:

Não adianta estimar projetos que durarão MESES em uma unidade de precisão de DIAS: tal precisão será esperada depois. Ancorado nesta unidade de tempo, o projeto que deveria levar 9 meses é considerado atrasado se entregue 3 dias após o prazo e todos sabem que isso raramente é um problema.

O Vale do Desespero

Como no exemplo citado na abertura deste artigo. Colocamos um experimento intermediário para funcionar: e tudo acontece como o esperado. Então, é preciso desmanchar este experimento seja para continuar os testes ou o projeto, como um todo.

Não gostamos de fazer isso.

Por quê? Pois um resultado funcional nos ancora e deixar este resultado parece ser falho, mesmo que seja previso.

Dar um passo para trás para dar dois passos a frente não é uma tarefa fácil de ser digerida. Preferimos ficar, mesmo que incompleto, com o resultado intermediário possitivo do que deixar o porto seguro. Claro que várias outras coisas tem papel aqui, mas a ancoragem, a expectativa de que o proximo teste seja imediatamente bem sucedido tem sua cota de participação…

A Restrição a Mudanças

No fim das contas, ficar ancorado em um ponto positivo é, em geral, ruim para qualquer um que queira implantar em uma empresa uma cultura de mudança e inovação. É bastante evidente a ancoragem psicológica das pessoas principalmente quando o melhor argumento contrário a um novo processo ou jeito de fazer as coisas, por exemplo, é:

Aqui sempre fizemos assim.

A mim, é bastante claro que a pessoa está psicologicamente ancorada no atual processo, pois de um jeito ou de outro, ele funciona. É claro que isso não é o único motivo pelos quais as pessoas tem restrições a mudanças: isso pode vir desde uma positiva dose de cautela, de uma perspicaz análise do custo de mudar até uma trágica postura preguiçosa frente ao trabalho…

Somos Humanos.

Talvez a pergunta que não quer calar é: e como posso evitar isso? A triste resposta é: não podemos ou pelo menos não é fácil evitar isso. É realmente complicado evitar o efeito da ancoragem: muitos estudos tentam indicar que mesmo com âncoras absurdas, o efeito ainda prevalece.

Como é difícil ou talvez impossível evitar, então restam duas coisas:

  • Saber que existe
  • Conviver com isso.

Eu acabo de informar que existe. Para conviver, o ponto é não usar tanto o “estômago”, o “feeling” ou “a emoção” para tomar uma decisão. O ideal é levar isso em conta, mas olhar os dados disponíveis.

Uma ideia é usar dados correntes para avaliação de prazos e não a primeira impressão. Um exemplo: se um fornecedor fez um bom trabalho, ele ainda está fazendo este bom trabalho? Um desenvolvedor que não conseguiu entregar satisfatoriamente um projeto, como será que ele anda hoje?

Avaliar dados correntes, buscar a fonte real de informações e registrar toda e qualquer informação gerada são os meios que uma empresa pode usar para evitar a ancoragem psicológica dos seus tomadores de decisão. Esse registro nada mais é que uma boa gestão de conhecimento… Como se diz, apenas o conhec

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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