Mais um da série de contos corporativos...
Fernando era modesto. Mas nem de perto isso era bom, ele era compulsivamente modesto. Tão modesto que a sentença mais significativa para ele era:
-Não quero ser melhor do que ninguém.
Quando Fernando conseguia ter uma grande ideia, dava sempre um jeito de moderar o elogio:
-É, aproveitei bastante o que os colegas me explicaram.
Era assim também quando superava seus indicadores:
-É, meu gestor foi generoso em me aplicar indicadores bem acessíveis.
E muita gente achava que ele fazia isso para receber um elogio maior de volta. Mas não… A modéstia de Fernando parecia verdadeira.
-Ah Fernando, fazes isso só para ganhares mais elogios.
-Por que eu faria isso? Até porque, meus colegas já são generosos demais comigo.
Fernando argumentava que não era digno de suas promoções:
-Dentre tantos colegas qualificados, tive a sorte de ser escolhido. Fiz um trabalho tão bom quanto o de todo mundo…
Não existia nada em que Fernando não moderasse ou diminuísse seu feito. Já salvou uma criança do afogamento:
-Na verdade, depois de se acalmar, eu fiquei tão exausto que essa menininha acabou carregando-se por uns bons metros até a beira. Não foi tanto esforço.
Porém, Fernando não era burro. Ele muito bem colhia os frutos dos seus resultados, por mais que sua modéstia estivesse presente. Ele aproveitava promoções, prêmios e tudo de bom que lhe acontecia e raramente partilhava tais benefícios
Inclusive aproveitou muito bem a boa impressão que, ao contar o ocorrido, salvar a criança causara na bela Salva Vidas do clube, para convidá-la para algo a dois, depois.
-Ela foi muito gentil em aceitar meu simples convite…
Disse ele.
Só uma pessoa não caia nessa. O psiquiatra, que Fernando frequentava. Ele sabia a verdade: Fernando era um grandessíssimo orgulhoso, que se gabava de ser a pessoa mais modesta a pisar neste planeta.
-Ninguém é mais modesto que eu.
Dizia ele sempre, em casa, na frente do espelho, ou nas consultas, escondendo sua hipocrisia do mundo.
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