O que te faz mal.

Em tempos de networking explícito, todo mundo quer se conectar com todo mundo. Será?
Um Post…

Certa vez eu li uma publicação de um ex-chefe-de-alguém (eu não conheço o cara) reclamou que um ex-funcionário que ele demitiu havia excluído ele dos contatos de determinada rede social. Ele dizia que era errado, pois ele poderia ajudar aquele funcionário em algum futuro.

Eu acho que raramente vi um chefe, pelo menos quando demitiu alguém por baixa performance, sair falando maravilhas sobre a pessoa. Nesse ponto, uma pessoa resolver por umas verdades para fora, na cara deste ex-chefe escreveu como comentário:

O que você quer basicamente é mostrar aos demais que você é tão bom chefe que até mesmo quem te demitiu é seu contato. Deixa a pessoa seguir o caminho dela em paz.

Curiosamente, esse cara captou o sentido. O tal ex-chefe, pelo visto, ficou monitorando seus empregados. Até os demitidos. Mas isso leva a pergunta… E nesses tempos de rede profissional escancarada, excluir pessoas é errado?

Hum… Eu acho que não.

Etiqueta e Bem Estar

Não interessa se é antiprofissional remover aquele seu chefe que te julgou errado. Aquele que quer ter cada vez mais certeza do que fez pelo quanto mais mal você se der. Mas dá para ir além: aquele ex-cliente que sempre te joga para baixo, aquele colega maldoso… Existe uma coisa que precede a etiqueta: a sua sanidade, o seu bem estar e sua tranquilidade.

O que te faz mal deve ser excluído do seu caminho. Etiqueta é sempre secundária a isso. O grande problema é que, quando este tipo de argumento vem a tona, dois tópicos são citados como necessários:

  • Inteligência Emocional
  • Resiliência

Resiliência demais… Emocionalmente superdotado.

Muito tem se pregado que resiliência é uma qualidade essencial. Vamos definir um perfil:

  • o sujeito precisa aguentar adversidades
  • tem que ter inteligência emocional para não responder a provocações
  • deve suportar a pressão
  • deve atender demandas urgentes
  • deve aceitar todas criticas negativas como construtivas
  • reconstruir-se toda vez que for destruído
  • e fazer tudo isso motivado.

A coisa é tão maluca que não querem pessoas emocionalmente inteligentes, querem pessoas superdotadas emocionalmente. Mas eu acho que isso é ainda pior. O que se tem com tais características? Um belo exemplar de  sangue de barata, que vai apanhar, recuperar-se para apanhar de novo.

As empresas estão exigindo pessoas com tanto sangue de barata e síndrome de Poliana, que não é nada surpreendente que encham seus quadros com pessoas que tem medo de correr riscos. Qualquer riscos. Aí o que fazem? Cobram a pessoa para correr riscos e apanhar ainda mais.

Bem Estar

Essa asneira toda começa a permear os consultores de confirmação, com frases feitas contendo maravilhas sobre resiliência, apenas para o que as empresas, normalmente as ruins, querem ouvir. Já vi gente falando com orgulho que “na empresa X, em que trabalhei, o pau comia solto”. Eu teria vergonha de ser gestor num lugar assim.

Mas como isso é o que muita empresa deseja, isso se torna conselho nas redes sociais, passa de sugestão ruim a regra de comportamento, algo que não serve para quase ninguém. Você não pode ser você, você tem que aturar a tudo e todos, aturar aquele seu chefe medonho, aquele cara chato e etc.

Isso não só é chato. É danoso.

Sua performance está diretamente ligada ao seu bem estar. Eu coloco algumas coisas que as pessoas fazem contra elas mesmas aqui, neste artigo. Da mesma forma que os próprios problemas atrapalham, o meio também pode cumprir seu papel prejudicial, afinal, ninguém é uma ilha.

Ficar se sujeitando a situações ruins por etiqueta ou para soar “grandioso e sábio” enquanto se está remoendo por dentro não ajuda. Muito menos se for em nome da “resiliência” ou do excesso de “inteligência emocional”.

Ah, mas não ajuda MESMO.

 

 

 

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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