Dicas para arrematar um emprego em desenvolvimento Parte I: As Ofertas de Vaga

Eu falei inúmeras vezes aqui sobre as pessoas que entrevistei. Mas até agora, não havia me ocorrido em escrever algo para ajudar quem está na luta, buscando uma vaga em desenvolvimento. Nesta primeira parte (I de VI), tratarei um pouco sobre como identificar vagas de Desenvolvimento.

Identificar Vagas de Sistemas Embarcados

Existe tanto lugar bom para se trabalhar tanto quanto existe tanto muito lugar ruim para isso. No Autodesenvolvimento, eu já trato bastante de como o desenvolvedor pode encontrar bons locais de trabalho e até coloco algumas dicas de como fazer isso, escolher um bom lugar para trabalhar.

Não é o foco agora, o foco é entender melhor os anúncios de vagas e saber o que realmente é importante ou não. Identificar uma vaga de sistemas embarcados, programação de software, projeto de hardware, web programming, enfim, identificar alguma vaga técnica parece ser tarefa simples. De fato, é tarefa simples. Então se é simples, por que precisamos discutir a respeito? Buscar emprego em desenvolvimento no Brasil não é uma tarefa fácil, apesar de que seja simples encontrar vagas: o Brasil é um país que valoriza inventores, não inovadores e, desenvolvimento, é basicamente inovar muito e inventar pouco.

Logo de cara, ficam duas dicas:

Dica 1:
O melhor lugar para encontrar vagas tem sido a internet, sem sombra de dúvidas.
Dica 2:
O segundo melhor meio de conseguir uma vaga é conversando com amigos e perguntar se eles sabem de alguém que esteja contratando.

Não foram poucas as histórias que ouvi de desenvolvedor que sugeriu um conhecido para repor sua própria posição pois estava mudando de emprego e a empresa acatou a sugestão. E a maioria dos profissionais que acompanho tem arrumado emprego pela internet, principalmente por redes sociais.

Vagas de Empresas Anônimas

Normalmente, as empresas divulgam um anúncio para cada tipo de vaga que precisam preencher e, nesta moda de “rede social corporativa”, cada vez mais empresas estão anunciando de maneira aberta suas vagas. Antigamente, era bem mais complicado: a maioria preferia permanecer anônima.

Apesar de não citar referências, gosto de trazer conteúdo sobre o qual fiz um pouco de pesquisa. E tenho feito algumas sobre as vagas anônimas que encontro nas redes sociais: a maioria vai parar em alguma empresa de RH ou site pago para anúncio de vagas. A maioria das vagas destes sites é requentada, infelizmente.

Não estou dizendo que são ferramentas inválidas para buscar um emprego. Muito pelo contrário, quem está procurando colocação ou recolocação não pode se dar ao luxo de simplesmente evitar tais ferramentas. E segue a terceira dica:

Dica 3:
Procure por vagas em todos os canais possíveis.

Muito embora estes sites ainda não lidam direito com vagas de desenvolvimento, principalmente se for em sistemas embarcados: vão parar misturadas com TI, por exemplo, ainda sim acho o esforço válido. Vários também tem um vasto arsenal de conteúdo para treinamentos que podem ser úteis.

Eu, em resumo, penso que depende muito da situação financeira de cada um e quanta reserva ou lastro ou sustento o indivíduo possui para gastar dinheiro buscando vagas.

A busca não pode parar.

Dica 4:
O candidato deve criar o hábito de procurar todo dia por vagas por um período limitado de tempo.

A busca por vaga deve ser algo na rotina do candidato. Todo dia ele deve devotar em torno de 1 hora buscando novas oportunidades. Eu não acho correto o sujeito passar o dia inteiro vidrado na internet caçando vagas, mas é importante ele ficar bastante antenado nisso. Em uma hora, ele faz sua rodada de buscas diária e investe o restante do tempo em outras atividades.

Ao fazer isso, convenientemente, ele irá identificar vagas zumbis e alguns padrões de vagas que dificilmente sejam algo além de mera captação de currículos.

A propósito: não recomendo também cair na fria do dinheiro fácil. Eu já comentei em um post anterior que isso só serve para tirar a atenção do indivíduo de sua carreira. Buscar uma oportunidade faz parte desta carreira e é muito digno procurar emprego.

Dica 5:
Buscar emprego é uma atividade digna.

Fundamental, Essencial, Desejável

Definidos os locais onde procurar uma vaga, é importante olhar com um pouco mais de detalhe para os anúncios. Eu noto que muitos candidatos não estão aptos para mostrar as suas melhores qualidades, mas não por serem ruins de oratória: por não terem entendido o anúncio. Isso é muito perigoso: alguns entrevistadores pouco benevolentes podem julgar que, quando alguém não sabe mostrar o seu melhor, não merece ser contratado.

Dica 6:
Entenda o que a vaga está solicitando.

Eu costumo definir, em um anúncio de vaga, 3 tipos de conhecimentos solicitados:

  1. Fundamentais: aquilo que alguém precisa saber para trabalhar naquele mercado
  2. Essenciais: Conhecimentos que, obviamente, constituem a essência da função que será exercida pelo ocupante da vaga
  3. Desejáveis: Conhecimentos que auxiliam o futuro empregado e executar suas funções.

Entender isso é ainda mais importante pois as habilidades essenciais para uma vaga pode ser apenas desejáveis para outra. É importante saber se o candidato tem o que é preciso. Por exemplo: é desejável que um programador conheça gerenciamento de projetos, contudo, o essencial é que ele saiba programar na linguagem definida pela vaga e, fundamentalmente, que saiba programar.

Com bastante frequência, vejo nos anúncios uma salada toda misturada destes pedidos. O que é fundamental geralmente está coberto se o perfil do candidato e se enquadra na “formação” requerida pela vaga. Por exemplo: eu vejo várias vagas para a área de Engenharia Elétrica (minha formação) voltadas para a área de Energia (eu tive ênfase em Sistemas Digitais), portanto, eu tenho o fundamental, pois eu entendo um pouco do tema e tive algumas aulas disso; mas não tenho o essencial: meu conhecimento é muito limitado.

Identificar o fundamental é fácil. Porém, o pior é separar o que é essencial do que é apenas desejável. Justamente aqui os anúncio pecam. Eu até entendo quando anúncios de empresas de RH ou Head Hunters são extremamente genéricos: cada CV recebido vai para o banco de dados deles tornando-os mais rápidos em preencher as vagas dos seus clientes. Para ajudar a entender melhor as vagas encontradas.

Para tanto, recomendo:

  1. Olhar o Website da empresa antes da candidatura
  2. Conversar com conhecidos se o que você sabe se aplica aquela vaga (já ajuda no networking)
  3. Avaliar o produto em questão. Se você tem ideia de como construí-lo, provavelmente tem perfil.
  4. Por fim, basta lembrar que a maior parte dos entrevistadores querem pessoas capazes de aprender. Se você julga que pode aprender a fazer aquilo, provavelmente conseguirá dar um jeito se for contratado.

Siglas Desconhecidas

Dica 7:
Não perder tempo com vagas que não interessam.

Eu já cobri isso na seção anterior, mas acho que é muito válido reforçar. Se um anúncio possuir mais siglas desconhecidas do que siglas conhecidas, é recomendável que o candidato não perca seu tempo candidatando-se a vaga. Dentro das empresas, são poucos os profissionais que encaminham currículos. Ao receberem um currículo bom e que não esteja relacionado a vaga para a qual estão com processo aberto, na correria, a maioria sequer lembra de fazer o encaminhamento.

O recomendado é o candidato sempre buscar vagas com o seu perfil e não gastar energia ou dinheiro fazendo entrevistas que o candidato já sabe que será eliminado por não apresentar os conhecimentos essenciais para a vaga. Assim, ele pode usar melhor seu tempo para afinar habilidades, aprender algo novo ou executar projetos em paralelo e etc.

Experiência: Proficiência x Tempo

Outra coisa que debato no Autodesenvolvimento e não vou me alongar muito. As empresas tendem a equiparar experiência e tempo de serviço como grandezas proporcionais 1:1. Não é verdade.

Quando o desenvolvedor candidato encontrar um anúncio cujo perfil descreve que é necessário “x anos de experiência”, cabes sempre a avaliação:

Teria eu a capacidade de dar conta disso caso eu seja selecionado, mesmo não tendo o tempo de experiência necessário?

Em outras palavras, o candidato deve avaliar se possui ou não a proficiência necessária para ocupar determinada vaga. Se o candidato estiver convencido de que dará conta do recado, deve candidatar-se, pois, durante a entrevista, não vai ficar receoso ou nervoso, fatores que, embora não sejam determinantes, podem diminuir as chances de conseguir a vaga.

Dica 8:
Conte com sua capacidade de aprender na hora de selecionar as vagas.

A vantagem dos desenvolvedores é que estes tem suas habilidades cognitivas muito bem desenvolvidas. Porém, vale sempre lembrar que há uma certa tendência humana em super avaliar as próprias qualidades.

O Super Candidato

Dica 9:
Não se assuste com o super candidato. Confie em suas habilidades.

Para finalizar esta etapa, eu gostaria de comentar um caso clássico. Algumas empresas jogam um caminhão de exigências ao anunciar uma vaga que, no tempo de vida normal de qualquer pessoa, seria possível ter profunda experiência exigida em todas elas. E algumas ainda o fazem para cargos iniciais.

Quando uma empresa faz isso, normalmente não espera que exista no mercado alguém com exatamente aquilo que ela está procurando: colocam um monte de exigências não para afunilar, mas, sim, para expandir o leque de candidatos: se alguém souber algumas daquelas habilidades listadas, já deve servir.

É importante lembrar que uma oferta de vaga não é uma descrição fiel e minuciosa das atividades que serão desempenhados pelo candidato. É no evento da entrevista em que candidato e empresa, claro, entrevistam-se. E este será o tema da próxima parte: como e o que levar em uma entrevista.

Alguns anúncios de vagas de sistemas embarcados espantam no anúncio. Portanto, recomendo entender um pouco o que está por trás dos anúncios de vagas para entender se vale a pena ou não se candidatar.

Conclusão

Como comentei no início, é importante avaliar com cautela as vagas para as quais o candidato submete seu currículo.

Com este mundo de internet, onde muita gente apenas quer uma grande lista de e-mails para mandar mala direta, não duvido que muitos dos anúncios anônimos sequer estejam ligados a uma verdadeira vaga. Penso que seu eu fosse um headhunter em início de carreira, eu bem gastaria meus R$ 500,00 para anunciar uma vaga fictícia no Linkedin só para, em seguida, aproximar futuros clientes informando-lhes que tenho uma base confiável de inúmeros candidatos.

Se é ético ou não, não sei. Não sou (e nem pretendo ser) headhunter. Se existir algum guia de ética, gostaria de receber. Dei uma vasculhada e não achei nada.

Eu tenho uma última dica.

Dica 10:
Não deixe de procurar uma boa vaga.

 


Na próxima parte, irei tratar um pouco mais do que fazer quando se recebe o convite para uma entrevista de empregos.


 

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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