Dicas para arrematar um emprego em desenvolvimento Parte II: Preparação para uma Entrevista

Na primeira parte eu comentei algumas coisas de como otimizar a busca por uma vaga. Nesta segunda parte, eu vou abordar o que levar para uma entrevista.

Preparação para Entrevista

Após ter concentrado seus esforços na procura por oportunidades, em algum momento o desenvolvedor será chamado para uma entrevista. É um momento crucial para o candidato definir sua estratégia e quais conhecimentos ele vai levar para a entrevista.

Não deveria ser um momento delicado e complicado, afinal, basta o candidato relatar o que viveu e o que sabe. A realidade é diferente: apesar de ter tudo, candidatos raramente se preparam da maneira que deveriam para uma entrevista.

Dica 11:
Quem está preparado tem mais chances de ganhar a vaga.

Estar bem preparado para uma entrevista é algo um pouco tedioso, pois estruturar um discurso e tornar canônica uma história. A vantagem é que isto for bem feito, é mera tarefa incremental: muda apenas a preparação relacionada a vaga-alvo e deve-se adicionar as novas experiencias. Talvez mude a mídia de apresentação.

Afinal, por enquanto, não é possível mudar o passado. Uma vez bem feito, pode ser muito bem reaproveitado.

Perfil do Candidato

Existe muita controvérsia sobre este tema em entrevistas. Algumas pessoas sentem-se invadidas ao dar qualquer detalhe de suas vidas enquanto outras exageram neste sentido. A medida, como sempre, varia de pessoa a pessoa. Enquanto candidato, não deve ser ofensivo dar detalhes, praticamente metadados, do que o indivíduo faz.

A Vida do Candidato

O Candidato deve estar preparado para falar algumas coisas sobre sua vida, não com o objetivo de descrever um perfil comportamental detalhado, mas para definir um pouco da pessoa que está por trás do profissional. Neste ponto, algumas perguntas são comuns:

  • É casado? Tem filhos?
  • O que o candidato faz fora do trabalho?
  • Algum livro?

Ou seja, perguntas do tipo.

Os candidatos devem estar dispostos a falar um pouco sobre estes aspectos gerais de sua vida pessoal. Porém, como sempre, com treino, o candidato toma a dianteira e fala o que ele quer falar. Se estiver preparado, ele evitará a surpresa da pergunta.

Dica 12:
Uma entrevista não é uma sessão de terapia ou confessionário.

Uma técnica é o candidato pensar em sua vida como uma fotografia de um galpão. Quais são as coisas, hábitos e pessoas que estão neste galpão e que são representativos de sua rotina e seus hábitos?

NOTA:
Se algum candidato se encontra em crise e não quer/não pode falar nada de sua vida pessoal: deve lembrar-se que existem coisas mais importantes que uma carreira. Nem sempre é o momento e talvez não seja a hora ainda de buscar um novo emprego. Pode ser mais importante resolver esta crise, primeiro.

Histórico do Candidato

O candidato deve ter uma história. Deve ter vivido e a coletânea destas experiências, quando bem organizados, montam o arsenal e maior ferramenta para o candidato conseguir uma vaga. Não saber explicar alguma experiência no currículo, ser pego exagerando experiências não é embaraçoso: é via de eliminação do processo.

O Currículo

Na seção anterior, não foi abordado como tema montar um currículo. Existe muita divergência entre montar um currículo muito completo e montar um mais sucinto. Eu acredito que o melhor para enviar por e-mail é montar um CV sucinto e enviar um link para algum lugar mais completo. Enfim, não é este o ponto.

O ponto é que o candidato deve estudar com detalhe cada item que colocou no currículo e disposto a discursar sobre ele. Portanto, não é ruim revisar rapidamente o que lá está contido.

Dica 13:
O candidato deve saber o que está no seu currículo.

E o melhor jeito de apresentar isso é fazendo um Portfólio, como apresenta-se a seguir.

Um Portfólio

Os desenvolvedores tem o costume de compararem-se com artistas. Não é uma comparação absurda: eu concordo com ela, apesar de haver diferenças entre ambos, há muita semelhança. No entanto, apesar de gostarem da comparação, não é comum aos desenvolvedores fazer o que muito artista faz: ter um portfólio.

Dica 14:
Montar um Portfólio para ajudar a explicar o que o desenvolvedor fez ao longo da Carreira.

Um portfólio é uma ferramenta na qual se coloca, sob a forma de uma apresentação, aquilo que é do conhecimento do detentor do portfólio. Igualmente, coloca-se também as realizações e objetivos atingidos. Em um portfólio, basicamente, é onde é possível colocar o que o desenvolvedor, de fato, atingiu em sua carreira.
Ter um portfólio, portanto, é uma ferramenta importante para conseguir um emprego. O portfólio deve responder a perguntas básicas: o que o detentor sabe e o que fez.

É muito complicado, para não dizer impossível, entretanto, abrir códigos fontes para demonstrar ou esquemáticos para demonstrar conhecimento tal qual um fotógrafo faz com suas fotografias: primeiro porque não há tempo do entrevistador avaliar e segundo por questões de sigilo. Apesar disso, a vantagem da internet é que as companhias lá colocam seus catálogos de produto e isso pode ser usado como parte de um portfólio.
Para finalizar a questão do Portfólio, mais uma dica.

Dica 15:
Saiba explicar o que fez em cada item do seu portfólio ou associar os conhecimentos com os projetos/produtos apresentados.

Não é necessário ter um website pronto com todos os projetos que foram trabalhados pelo candidato (algo que é muito indicado). Contudo, o candidato deve saber listar rapidamente, pelo menos de cabeça, tal portfólio isso. Muita gente se atrapalha e confunde tudo por nunca ter sequer feito o exercício mental de fazer seu portfólio.

A História da Carreira

Muito melhor que fazer o entrevistador discorrer o seu currículo lhe perguntando os detalhes de sua vida profissional e como o candidato foi parar ali, é o candidato que sabe narrar sua história. E por narrar, entenda-se que é narrar em estilo de narrativa mesmo.

O Candidato pode montar essa história conforme a conveniência: suprimir o tempo de passagens sem relação de beneficio com a vaga-alvo pleiteada. Algumas experiências com menor relevância devem dar espaço para experiências com maior relevância. Também o candidato não precisa partir do inicio dos tempos, mas é importante escolher um ponto inicial.

Dica 16:
O candidato deve saber contar sua história profissional.

Saber o que dizer e como dizer evitará, por exemplo, momentos de silêncio durante a entrevista. É importante o candidato estar disposto a adaptar esta história de acordo com o entrevistador, pois certamente ele ira questionar aspectos desta historia e, portanto, de foco em atividades do tipo ao curso de sua oratória.

Sobre a Vaga

Essa é talvez a parte mais recorrente da preparação do candidato. Cada vaga demandará um pouco de estudo. Então já fica uma dica, adiantando um ponto importante:

Dica 17:
Buscar emprego é uma atividade funcional.

E por ser algo nobre, o candidato não deve cansar de fazer várias vezes as mesmas coisas e jamais deve dizer que está desocupado. Está sim, muito ocupado, procurando emprego.

A Empresa

É curioso que alguns candidatos não dedicam nem 5 minutos em estudar a companha que pode vir sua futura empregadora em um mundo onde bastam alguns poucos minutos em um computador com internet.

Dica 18:
Informe-se sobre seu futuro empregador.

Saber quais produtos a empresa comercializa, quem são seus concorrentes e como está seu mercado sempre ajudam o desenvolvedor a demonstrar maior conhecimento e maturidade profissional.

A Vaga

A vaga já foi amplamente avaliada na sessão anterior, contudo, é bom reforçar que o mais importante é o candidato saber quais das suas qualidades são importantes para a Vaga.

Dica 19:
Relacione suas habilidades com as da Vaga.

Uma vaga que tenha sido bem avaliada dificilmente apresentará surpresas ao candidato. Além disso, desenvolvedores, ou qualquer um com uma posição técnica, na verdade, normalmente já sabem bem em que estão metidos, portanto, não há muito o que perguntar sobre as atividades em si.

Extras

Por fim, as últimas cartas que devem estar na manga de todo desenvolvedor em processo seletivo.

Uma Lista de Perguntas

Sempre pergunto aos candidatos se eles tem algo a me perguntar. Eles raramente tem. Quando chegam na portaria, sempre recordam de algo. Por que isso? Porque no caminho até eu levá-los a recepção, eles estão pensando em algo para perguntar.

Dica 20:
Ter em mente aquilo que é desejado saber.

Embora isso não prejudique negativamente, também não contribui positivamente. Eu considero muito melhor quando o candidato pergunta dentro do prazo. Novamente: ter pensado no que perguntar eliminaria não ter o que perguntar. Como sugestão, as perguntas que eu sempre recomendo:

  • Sobre remuneração
  • Agenda do processo seletivo
  • Dúvidas sobre a Vaga
  • Dúvidas sobre a Empresa

E, obviamente, tudo mais que o cliente quer saber e que influenciará na sua tomada de decisão em aceitar ou não a vaga.

Experiências Extracurriculares

Embora não seja recomendável, para não haver quebra nas narrativas de portfólio ou de histórico profissional, eu recomendo que as atividades extracurriculares sejam introduzidas quando o entrevistador perguntar se há mais alguma coisa que o candidato queira colocar.

Por exemplo: o candidato nunca fez cursos de informática, mas foi autodidata e, por algum tempo, consertou os computadores de amigos. Isso pode ser considerado importante, dependendo do cargo.

Dica 21:
Toda experiência pode ser valiosa, depende do contexto.

Cabe, como sempre, ao candidato avaliar quais experiências do tipo ele quer levar para a entrevista.

Quando as coisas vão mal

Infelizmente, nem todo entrevistador é ético e honesto.

Dica 22:
Dignidade não é negociável.

O candidato deve estar preparado para deixar a sala de entrevista e encerrar o evento antes que seja necessário alguma medida de maior impacto, como, por exemplo, acionar a justiça. Muito melhor do que acionar entidades legais para defender um direito é não precisar fazer isso.

Já soube de alguns processos abusivos, em que os entrevistadores tinham como método humilhar ou criticar pesadamente os candidatos para testar sua resiliência. O curioso é que fazem isso as vezes com estagiários e, na maioria das vezes, a resiliência de alguém inexperiente está muito mais para um total desapego (“nem ligo”) do que para a capacidade de sobrepassar adversidades.

Também são comuns histórias de entrevistadores que atrasam para uma entrevista e sequer prestam qualquer esclarecimento aos candidatos. Muitos desmarcam em cima da hora. Também pode haver receio de risco pessoal. Nunca soube de qualquer história do tipo para desenvolvedores (é mais comum no mundo das Modelos), mas sempre convém deixar alguém avisado para onde o candidato vai.

Dica 23:
Ter em mente as condições lhe levem a cancelar do processo.

O ponto aqui é que o candidato saiba o que fazer, afinal, situações destas podem deixar o candidato sem ação por não esperar nada disso.


Na próxima parte, A Entrevista, vou explicar porque considero estes itens importantes.


 

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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