Empresas. Mercado. Mente Hermética. Argh!

Hermético é uma palavra bonita.

Hermético é aquilo que é fechado. Selado. Que, idealmente, não realiza nenhuma troca termodinâmica com o seu redor. Uma geladeira, por exemplo, tenta ser hermética enquanto está com a porta fechada.

Ok, mas termodinâmica é coisa do segundo grau. Para engenheiros, talvez física 3. Ou física 2. Tanto faz.

O fato é que podemos aplicar o conceito de sistema hermético em vários aspectos da vida profissional. Empresas que se fecham para o mundo, mercados que julgam suas necessidades maiores do que tudo, as vezes até que seus clientes e networking, em que a pessoa só anda com seus similares, ou, pior, nem isso.

Empresas herméticas

Conheço empresas que não atendem a qualquer coisa diferente de sua própria hierarquia. Executivos mais concentrados em seus cargos que nas suas equipes. E que, para atender processos internos, vale a pena tudo: perder fornecedores, parceiros e, o pior, clientes.

Isso não é incomum. Veja:

  • Entre atrasar um relatório ao seu chefe e atender um cliente, qual a chance de você ser penalizado por falhar com o chefe?

Eu já cheguei ao absurdo de presenciar a seguinte declaração:

Primeiro vem as demandas do seu chefe. Depois dos seus colegas. E por fim, os clientes.

E isso foi dito com a boca cheia de razão. Estúpido? Depende. O que vai manter o emprego? Em uma empresa assim, resta pouco a se fazer: um funcionário ou um gestor de primeiro degrau não vai conseguir mudar a empresa. O mais recomendado é abandonar o navio.

Mercado hermético

Conheço alguns mercados que, de maneira muito estranha, entendem que os problemas inerentes a sua atividade também devem interessar ao cliente. Seria como quando alguém leva o carro para consertar e o mecânico ignora o que está errado com o carro: no lugar, resolve pintar a lataria.

O que parece absurdo no exemplo acima nem sempre é tão absurdo quando se avalia que, muitas vezes, as empresas se fecham em seus concorrentes diretos e esquecem que há todo um mundo em evolução; mais ou menos como o clássico caso Kodak, que pode ter o melhor filme frente aos concorrentes. Mas isso serve para o quê? Nada.

Não interessa para um cliente de roupas como será dividida a comissão entre vendedores, não interessa aos fregueses qual a política de gorjeta de um restaurante ou quem ficou com as melhores mesas. Em um mercado que se julgue maior que os próprios consumidores, este tipo de disputa chega até o cliente: e ele não quer saber disso.

Neste caso, o mercado hermético explodiu, vazou, pela própria pressão interna. Mas isso é tema para outro post.

Porém, isso acontece porque um mercado só é hermético é consituído por…

Mentes Hermética

Desenvolvedores (eu, inclusive) tem uma forte tendência a se achar donos de um conhecimento único. Portanto, como praticamente há todo tipo de desenvolvimento sendo feito em praticamente em qualquer indústria, desenvolvedores julgam que são especialistas em tudo.

Esse paradigma é perigoso por dois motivos:

  • Por que está sempre errado
  • Por que é absurdamente restrito
  • Uma mente hermética não inova.
“Besides, our boss demands us to do it this way.”

Eu diria que esse tipo de postura vem de uma mente hermética. Uma mente hermética é aquela que, por exemplo, acha que tudo deve sempre ser feito de uma determinada forma, sem haver nenhuma evidência que sustente isso. Uma mente hermética não enxerga nada além daquilo que lhe convém.

E o contrário disso?

Dá para ter foco no mercado, na carreira sem se tornar um sistema hermético. Há muito jeito de fazer isso. Basta não ficar preocupado com sua promoção, mas, sim, em fazer o seu trabalho. Não em agradar a todo custo, mas em fazer o que é certo. Isso naturalmente vai expandir a mente para buscar novidades: problemas vão acontecer e com frequência, para fazer o que é certo, será preciso buscar soluções inovadoras.

É a porta da geladeira, até então fechada e fazendo dela um sistema hermético, que se abre. E uma geladeira quando abre tanto serve para fornecer o que lá está guardado, como para receber novo conteúdo.

Alias, isso é algo que não é opcional: ou se faz isso, ou se vai parar dentro da geladeira… Onde é frio e faz um inverno infinito. Por muuuuuuito tempo…

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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