A Lenda do Intraempreendedor

Além da lenda urbana em que todo mundo deve ser líder, criaram mais uma: que é o cara aquele que é “intraempreendedor”. Você, que toma conta de uma equipe, pode ser intraempreendedor de verdade?

De onde vem essa necessidade?

As empresas, com o mercado como é (e sempre foi) estão sempre a procura de pessoas que gerem negócios lucrativos para elas. Pois, se um perfil, o do empreendedor, é capaz de gerar negócios para ele, não seria ele também capaz de gerar negócios para uma empresa? Sim, seria.

Mas havia um problema. Empreendedores adoram liberdade. Para mantê-los dentro das empresas, criou-se o conceito de P&L. Basicamente, é quanto uma unidade gasta versus o quanto ela lucra. Esse saldo é o resultado da divisão e, portanto, enquanto o empreendedor, agora dentro da empresa, ainda tem liberdade de fazer o que quer, ele também tem que manter seu resultado positivo.

Até aqui, tudo bem. Mas como sempre, a necessidade de soluções milagrosas que sempre acomete empresas surge. Então criou-se aquela mesma situação sobre liderança: se é interessante gente dentro da empresa que possa criar novos negócios lucrativos, este perfil precisa ser perseguido. Com isso, os intraempreendedores se tornaram escassos, caçados e valorizados.

Falou em valorizados? Aí todo mundo quer. Mas…

Intraempreendedorismo não é para todos.

Tenho lido, já faz alguns anos, que as empresas buscam “intraempreendedores”. E é uma grande verdade, porém, uma grande meia verdade. Você não é intraempreendedor, você ESTÁ intraempreendedor e isso depende muito do cargo que você ocupa, o que basicamente define os seus poderes que, por fim, definem o que você decide.

INTRAEMPREENDEDOR É PARA QUEM DECIDE.

Você, engenheiro de bancada, programador, middle manager: você, se for sábio, deve permanecer alheio a toda essa conversa de intraempreendedor. Não é para você. É papo para os caras de cima da hierarquia, com poder de assinar cheques.

Quer fazer um teste se você pode ser um intraempreendedor?

Tem o teste dos mil reais… Por sua conta, avalie algum material de escritório, ferramenta ou afins, algo até mil reais, que a empresa precisa. Se você não pode ir lá e comprar, você não pode ser intraempreendedor. Aliás, você apenas alimenta a cadeia de decisão; todas as suas decisões só surtem efeito no seu trabalho individual ou indiretamente no trabalho dos seus colegas, quando bem ou mal feito.

Experimente criar uma vaga ou terminar com a vaga daquele cara mais folgado. Não pode? Então intraempreendedorismo NÃO É PARA VOCÊ.

Então para quem é?

Intraempreendedorismo é o conceito em que uma pessoa inicia uma nova unidade de negócios, uma nova linha de produtos, enfim, inicia um novo projeto dentro da companhia, quase que criando uma companhia dentro da companhia.

Para isso, a pessoa corre riscos, emprega seu orçamento, atua sobre seu P&L para liberar recursos para que possa iniciar tal atividade. E conforme esta atividade for frutífera, vem os lucros e os bônus. em outras palavras: você cria um negócio novo para a empresa e seu orçamento aumenta, você cresce. Tal qual uma empresa, o empresário investe, cresce e colhe os frutos.

O que quer dizer que, dentro da empresa que você trabalha, se você não tem autonomia, você não pode ser intraempreendedor. É melhor sempre respeitar a hierarquia com o melhor de suas contribuições e, caso os rumos não sejam o que você acredita, é melhor mudar de emprego.

Porque…

Para quem é contribuidor individual, sem poder de decisão, há uma janela que pode fazer sentido. Encarar-se como um prestador de serviços, tocando o seu próprio negócio. Esse negócio é sua carreira. E você precisa fazer esse negócio dar certo.

Isso se traduz numa coisa: empresas que pregam intraempreendedorismo para pessoas que não tem poder de decisão estão mandando um recado muito direto:

FOQUEM EM SUAS CARREIRAS E EMPREGABILIDADE, nós não temos nada a ver com isso. Aqui, faça o que lhe mandam e dê o melhor de seus pareceres, como um ‘intraconsultor’.

Nada de boicotar a empresa: quem cresce boicotando seus clientes? Nada de fazer corpo mole: que empresa cresce procrastinando suas entregas? Nada de fazer mal feito: que empresa cresce entregando só produtos ruins?

Esse tipo de pensamento funciona muito bem, afinal, em última instância, você sempre será seu próprio chefe… Ao  mesmo tempo que sempre será seu melhor recurso.

 

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Sobre rftafas 183 Artigos
Ricardo F. Tafas Jr é Engenheiro Eletricista pela UFRGS com ênfase em Sistemas Digitais e mestre em Engenharia Elétrica pela PUC com ênfase em Gestão de Sistemas de Telecomunicações. É também escritor e autor do livro Autodesenvolvimento para Desenvolvedores. Possui +10 anos de experiência na gestão de P&D e de times de engenharia e +13 anos no desenvolvimento de sistemas embarcados. Seus maiores interesses são aplicação de RH Estratégico, Gestão de Inovação e Tecnologia Embarcada como diferenciais competitivos e também em Sistemas Digitais de alto desempenho em FPGA. Atualmente, é editor e escreve para o "Repositório” (http://161.35.234.217), é membro do editorial do Embarcados (https://embarcados.com.br) e é Especialista em Gestão de P&D e Inovação pela Repo Dinâmica - Aceleradora de Produtos.
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