Mais um da série Contos Corporativos.
Manuel Carlos, o Neco, era um incompetente. Não se sabe exatamente como ele foi parar dentro da companhia, mas se sabia muito bem como ele chegou aos altos cargos: por ser aquele que foi ficando. Sem alternativas, alguém acabou promovendo Neco a gerente. Ou seja, contrariando o ditado “eu sei como nasce mas não como se criou”, no caso de Neco, “sabemos como se criou, mas como nasceu é um mistério”.
Contudo, corria o boato que Neco seria demitido, afinal, nenhuma empresa fica muito tempo à mercê de um péssimo profissional em altos cargos. Neco era incompetente; mas não desligado.
Neco, ao ficar sabendo disso, começou a traçar um plano de como permaneceria no seu emprego. E começou a listar suas habilidades para ver se alguma delas o salvaria. E Neco não tinha nenhum talento útil. Neco era incompetente, mas não era burro e precisava se salvar.
Então Neco foi procurar coaching. E foi procurar o melhor coaching da região. Julião, o coach, era muito conhecido por sua calma e paciência. Dizem que era tão bom nisso que até mesmo o Bispo da região ia atrás dele, procurando por coaching. Porém, nem mesmo Julião seria capaz de ajudar Neco.
Parece que a sessão estava chegando em um limite em que o Julião estava ficando enfurecido com a incompetência de Neco e sua completa incapacidade em ter qualquer habilidade. Ele era um inútil.
-Mas você não faz nada direito. Neco, você é um inútil.
-Ok. Desculpe…
-Por favor, nunca mais volte aqui. E vou te cobrar dobrado.
-Ok. Desculpe.
Julião seguiu ofendendo Neco e este se desculpando. Até que quando Neco estava de saída, após ter pagado triplicado, Julião grita:
-Volta aqui.
-O que?
-Você não tem nada que preste. Mas tem uma coisa.
Neco tinha um sangue de barata de primeira categoria. Daquelas baratas, que sujam todo um para-brisa de carro quando se deparam com um em alta velocidade. Gosmento. Nem com limpador, não adianta tentar limpar. Julião então sugeriu a Neco algo extremamente absurdo: usar isso em seu favor.
Na primeira reunião, Neco suportou humilhações, foi saco de pancadas, sempre pedindo desculpas e, após alivio geral dos presentes, Neco foi elogiado por sua resiliência. Com seu emprego garantido, Neco bradou:
-Eu posso perder a dignidade, mas jamais o emprego.
Então tá, Neco. Vai firme! Só cuidado o para-brisa!
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