Mais uma leitura da série Contos Corporativos.
Se tinha uma coisa que todo mundo concordava era com o fato de que Marta tinha muita empatia por todos. Também que ela não conseguia esconder o que sentia: ela fazia caras e bocas e não conseguia esconder o que sentia. Marta abria um sorriso largo quando sabia da promoção de um colega, ficava muito triste ao ver a companhia perder seus talentos.
Marta era amiga de todos, se comovia com histórias e dava bons conselhos. Era dito que Marta certamente assumiria o RH, apesar de ser muito expressiva, por ser uma profissional de primeira linha.
O único “porém” era Marta ser um caso típico de mostrar no rosto tudo o que passava no coração.
Sem nenhum filtro.
Toda vez que a Diretoria queria uma opinião sincera, eles convocavam Marta para uma reunião. Como da vez que criaram um plano de benefícios que não beneficiava funcionário nenhum… Marta rolara os olhos para isso e suspirou. Pronto! Mudaram o plano.
Também teve a vez em que propuseram um plano de bonificação por metas. Neste caso, Marta deu um risinho, quase como deboche, pois as metas eram inatingíveis. Pronto! Revisaram o plano.
E teve a vez que Marta sorriu satisfeita quando pensaram em um pacote para os funcionários mais antigos de casa. E o programa foi um sucesso: refletiu nos recém ingressos e a companhia reduziu a evasão de talentos.
Essa era Marta. E a companhia ia muito bem.
Pois então um dia tudo mudou. A companhia passava por um declínio drástico de produção, ao ponto que paralisou até as vendas. A decisão da companhia, então, foi demitir a maioria dos funcionários da produção. Todos seriam substituídos por máquinas. Foi um dia muito triste.
Marta era do RH e acabava de voltar de férias, segundo ela, férias embelezantes. Foi chamada pela diretoria no ato. Ela tinha sido pega de surpresa pela notícia e, pior, como a analista de RH sênior, seria ela a dar a notícia ruim. O chefe de Marta, tentou amenizar o caso durante a reunião, conhecendo a funcionária que tinha:
Eu sei que será difícil.
Porém, todos ficaram de queixo caído: Marta ficou impassível. Sem nem levantar a sobrancelha. O chefe de Marta ficou abismado. A Diretoria aos prantos. O que significava aquilo?
Um a um, Marta foi chamando para o abate. Sem sequer uma expressão de tristeza ou insatisfação. Marta demitiu a todos com uma frieza singular. Até Neida, que com relativa frequência pedia para Marta lhe dar conselhos:
-Marta, e o que eu vou fazer agora?
-Arrumar outro emprego – disse Marta.
Ninguém entendeu. A diretoria chamou Marta para conversar. Ela se disse que estava triste, mas suas feições estavam indiferentes. As pessoas começaram a dizer para Marta que ela já não era mais a mesma. Ela se dizia triste, mas continuava indiferente.
Marta se sentiu isolada. Porém, pensou:
“Jamais vou admitir que usei Botox®.”
Marta não era perfeita. Ela tinha sua vaidade…
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